quarta-feira, 23 de março de 2016

Os "papo ruim"

Eles não perdem uma oportunidade...

Quando vêem uma menina durante o treino, eles aceleram, se matam, mudam o percurso, esquecem a planilha... Tudo para vir prosear.

Estou falando da turma dos "papo ruim"! Aqueles caras pegajosos que mal te conhecem, mas acham que têm uma intimidade super, e sempre atrapalham o nosso treino com casos, histórias e milhares de perguntas, num fala fala interminável que estraga o treino de qualquer um.

Claaaro que não estou generalizando. Tem pessoas que dão prazer de correr ao lado, aquelas que fazem nosso treino passar rapidinho. Essas são ótimas!!! Adoro quando encontro. Mas os "papo ruim"... 😁

Eles não percebem que são inconvenientes. Te abordam mesmo quando vêm que você está com fone de ouvido. (Fone de ouvido = quero curtir minha música e meu treino sozinha! Ok?) e pior, às vezes passamos por eles acelerando (pra ver se o cara se toca), danos aquele "oi beleza tchau" e mesmo assim eles vem atrás.

O pior tipo é o "papo ruim de elite", aquele que quando você está no meio do treino forte, colocando até as tripas de fora ele vem te entrevistar no meio do treino. Conversa como se estivesse trotando o FDP.

Mas tenho algumas técnicas que ajudam a fugir dos PR's:

1- Quando ver um PR (que corre bem) pelas costas e mais devagar que você, mude o trajeto. Quando ele ver você passando por ele, ele irá atrás! Pode crer!

2- Se o PR for mais lento que você, tente acelerar pra ver se ele se toca que você quer ficar sozinha;

3- Se mesmo assim ele vier atrás de você, quando ele estiver chegando perto (não olhe pra trás, finja de boba!) mude o percurso de uma vez e deixe ele no vácuo. Alguns entendem o recado e vão embora.

4- Se nada disso funcionar, minha amiga, vc está ferrada... Se o PR ficar do seu lado falando que nem uma maritaca, você pode dar respostas monosilábicas ou dar a real no amiguinho. Fica a seu critério.

Hoje de manhã coloquei essas estratégias em prática e consegui fugir de dois deles. Já mapeei todos. Quando os vejo dou linha. Mas há dias que não dá certo, aí o jeito é aguentar.

Boa sorte à todas e bons treinos!

@mvitoriaabreu

terça-feira, 22 de março de 2016

É Força, Raça e Superação!

Em 2016 completam-se oito anos. Oito anos que uma menina desengonçada e gordinha foi cruelmente escorraçada pela amiga. Um ato que colocaria muitas pessoas em depressão, foi o estopim para uma incrível mudança de vida.
Após um intercâmbio de quatro meses nos EUA, ela retornou feliz da vida em poder reencontrar os amigos, e trazer aquele tênis encomendado pela amiga. E após emagrecer cerca de 17 kg com a corrida, a amiga que encomendou o tênis, achou que deveria - de um jeito nem um pouco carinhoso - falar algumas verdades.
Da bunda grande, barriga enorme, cabelos e roupas feias à gordura que dominava o abdômen, os braços e o quadril, nada escapou da língua ácida da amiga. Tudo foi detalhadamente criticado sem o menor pudor.
Após a visita da amiga, que não durou mais que 5 minutos, tempo suficiente para pegar o tênis e soltar todo aquele veneno, a gordinha foi para o banheiro chorar. Olhava a barriga no espelho, e enquanto as lágrimas caíam, ela prometia para si mesma que aquilo iria mudar.
No dia seguinte ela começou a fazer caminhada na avenida próxima à sua casa. E logo recebeu um convite de outra amiga para participar de um grupo de reeducação alimentar.
Começou a mudar a alimentação. Trocou pão francês por pão integral. Cortou doces, refrigerantes e frituras. Leite comum por leite desnatado. E assim foi.
Um mês e meio depois, os 93kg já eram 88kg. Com cinco quilos a menos, ela decidiu começar a correr. Pegou sua camisa da Seleção Brasileira, um short alaranjado, um tênis de futebol e uma mochila de hidratação. Um esforço colossal para percorrer pouco mais de 50 metros. Língua pra fora e coração na boca. Ela percebeu que a tarefa seria um pouco mais complexa do que imaginara. Mais alguns minutos de caminhada e outra tentativa, e mais uns 50 metros. E assim ela foi, por alguns meses, naquela tentativa insana de correr.
camisa selecao short laranja
À noite, as dores nos joelhos eram terríveis. Sem contar as assaduras nas coxas e as bolhas nos pés. Logo ela descobriu os shorts de lycra, e as visitas à farmácia do bairro ficavam cada vez mais frequentes, na busca por pomadas analgésicas e esparadrapo para os pés.
Os pais achavam que seria apenas mais uma das várias tentativas dela para emagrecer. A mãe se recusava a apertar suas calças, dizendo que logo logo ela engordaria novamente. Diziam para que ela parasse com a corrida, pois os joelhos que doíam era devido à um problema congênito familiar, e que não havia outra opção a não ser esperar o tempo passar e sofrer com artrite e artrose. Ela mais uma vez se recusou a acreditar.
antes2
Após seis meses de muita insistência, e nenhuma assistência, ela já corria 10km. 1:06h foi o tempo do seu primeiro feito! Pela primeira vez sentiu uma descarga de adrenalina fantástica, algo que lhe disse definitivamente que aquele sentimento iria lhe acompanhar para a vida toda.
Poucos dias depois, andando pelo centro da cidade, ela se deparou com a porta de uma galeria, que continha uma placa com os dizeres: Casa do Corredor. E ela foi conferir do que se tratava.
Uma pequena loja, com as paredes tomadas por fotos, medalhas e troféus. Cenário que dizia a qualquer um que por ali entrasse, que era um lugar de campeões. Que as pessoas daquele lugar não corriam só por brincadeira, a parada era séria.
E conversando com o dono da loja, foi convidada a entrar para a equipe. Assustada ela tentou recusar, sabia que não seria mais uma foto para ser colocada na parede, muito menos um troféu para ocupar a estante. Mesmo assim, o dono da loja retirou uma camiseta amarela e lhe deu. Disse para ela fazer a inscrição numa corrida no mês de abril, o tal Circuito das Estações (aquele que ela via nas camisetas de outras pessoas na rua e não sabia do que se tratava...). E assim ela fez. Se inscreveu logo nos 10km, pois queria ter certeza que daria conta de completar.
No dia da prova, chegou às 5:30h da manhã na arena do evento, com medo de perder a largada. Ficou admirada com tantas tendas de assessorias e com toda aquela estrutura. Ficou assentada esperando o tempo passar, e logo que percebeu o horário da largada se aproximando, guardou suas coisas no guarda volume e se posicionou bem atrás na largada. Por certos instantes, tirava os fones de ouvido só para escutar os barulhos dos tênis no asfalto. Achava incrível aqueles sons de milhares de pessoas correndo ao mesmo tempo, e as piadas que escutava pelo percurso.
Completou o desafio em 54 minutos! Não tinha noção do que era aquele tempo. Quando encontrou com toda a equipe após a prova, foi incentivada a continuar treinando, que seu tempo com certeza iria melhorar.
DSC03581
Com o término do intercâmbio, ela retornou ao seu curso de pós-graduação em Marketing, que havia trancado para poder viajar. Ao reencontrar uma professora que se surpreendeu com a mudança e o novo corpo, já com 28kg a menos, ela foi aconselhada por essa professora a procurar um treinador, que segundo ela era um dos melhores do país. E assim o fez.
Encontrou com o treinador no Parque Municipal, num dia de treino, onde os atletas - principalmente os de elite - se encontravam para treinar. Foi logo pedir à ele para treiná-la, mas informou que não tinha dinheiro, pois ainda não estava trabalhando. Não houve problema. Os treinos logo começaram, em maio de 2009.

Em junho do mesmo ano, apenas 1 mês depois do início dos treinos, a agora ex-gordinha e atleta, participou de mais uma prova de 10km, e viu seu tempo baixar pela primeira vez para 49 minutos! Próximo à linha de chegada, escutou outro corredor gritar para ela: vem comigo que você está muito bem! Você corre muito, vamos fechar abaixo de 50! Aquele momento foi marcante! Pela primeira vez escutou alguém elogiá-la! E ficou pensando: "será mesmo que eu corro muito? Acho que não, pois as meninas que ganharam a prova fizeram bem abaixo disso. Então eu ainda não corro muito. Mas acredito que posso melhorar."
E foi treinando, treinando e treinando. Com toda disciplina que aplicava à sua alimentação, repetia nos treinos. Logo seus tempos foram baixando para 47 minutos, 46, 45, 44... E começou a frequentar os pódios das corridas em Belo Horizonte. Chegou a fazer 41 minutos nos 10km, 20:15'' em 5,08km (média de 3:59 min/km) e 1:34h na Meia do Rio. Chegou a ser vice-campeã mineira de corrida em 2011, num campeonato de liga realizado pela Federação Mineira de Atletismo, com premiação em dinheiro e mais de 200 participantes, com corridas realizadas durante o ano inteiro em diversas cidades do Estado. Em fim, a gordinha chegou.
Discurso da Vice Campeã e Destaque Feminino do Campeonato Mineiro de Corrida de Rua - 2011

Destaque Masculino, Treinador Adriano Maron e Destaque Feminino e Vice-Campeã

Com os troféus de Vice-Campeã e Destaque Feminino do Campeonato Mineiro de Corrida de Rua - 2011

Vanderley Guerra, proprietário da Casa do Corredor
Chegou inclusive a dar um sonoro tapa na bunda da sua algoz amiga, enquanto liderava uma corrida de 10km e a viu na sua frente, correndo vagarosamente,  porque largou 1 hora antes para não chegar tão fora do horário de término da corrida... Aquilo foi uma redenção!!!
E a ex-gordinha atleta, partirá para sua primeira maratona. Após 8 anos, mais de 160 corridas, sendo 14 meia-maratonas, ela se viu liberada - e incentivada - pelo treinador a participar. Todos lhe dizem, que com sua atual rodagem de 100km por semana em média (2 períodos de treinos diários), ela já teria condições de fazer uma maratona. Mas ela quer mais, e sabe que os treinos ficarão um pouco mais puxados.
12748455_1720574391490907_726665712_n(1)
O que ela quer de verdade, é provar que não existem limites, não existem estereótipos e nem preconceitos. Ela quer provar que não existe atalho para o sucesso, que não existe fórmula mágica. Existe sim, muito treino e dedicação, e que qualquer um, mesmo que gordinho e sedentário, que se disponha a vencer um desafio, pode conseguir se realmente se dedicar, se fizer as coisas certas e procurar bons profissionais.
Nossa amiga atleta, ex-gordinha, Maria Vitória Abreu, irá contar neste blog a partir de hoje, sua vida de atleta amadora (com planilha de profissional) sua rotina de treinos e perrengues para completar sua primeira maratona em 31 de julho de 2016.
Seja bem vindo à esse novo mundo de descobertas, com muita informação e bom humor!

Um abraço!

@mvitoriaabreu